Quem partilha a vida com gatos conhece bem a cena: o animal começa a tossir, a engasgar-se, e, após alguns segundos de esforço, acaba por expelir uma massa húmida e alongada de pelos. Trata-se daquilo a que chamamos bolas de pelo, ou hairballs, em inglês. Embora este seja um fenómeno relativamente comum, é essencial compreender porque acontece, quais os riscos que pode implicar e, sobretudo, como prevenir a sua ocorrência.

Porque é que os gatos formam bolas de pelo?

A formação de bolas de pelo está diretamente relacionada com o comportamento natural de higiene dos gatos. Estes animais passam uma parte significativa do dia a lamber-se para remover sujidades, odores e pelos soltos.

A língua do gato é coberta por pequenas papilas rígidas, semelhantes a ganchos microscópicos, compostas por queratina. Estas papilas funcionam como uma escova natural, prendendo os pelos soltos durante a lambedura. O resultado inevitável é a ingestão de pelos.

Na maioria dos casos, os pelos ingeridos atravessam o aparelho digestivo e são eliminados através das fezes. Contudo, quando a quantidade ingerida é elevada, ou quando o trânsito intestinal não é suficientemente eficiente, os pelos acumulam-se no estômago ou no intestino, formando massas compactas. É então que o gato, para se livrar desse corpo estranho, acaba por vomitar a famosa bola de pelo.

Fatores que favorecem o aparecimento de bolas de pelo

Nem todos os gatos têm a mesma propensão para formar bolas de pelo. Alguns elementos podem aumentar bastante a probabilidade de o problema ocorrer:

  1. Comprimento e densidade do pelo
    Gatos de pelo longo, como Persas ou Maine Coons, ingerem naturalmente mais pelos do que gatos de pelo curto. Por isso, são mais suscetíveis a formar bolas.

  2. Mudança sazonal de pelagem
    Na primavera e no outono, altura em que os gatos trocam de pelo, há uma libertação significativa de fios mortos. Consequentemente, aumenta também a ingestão de pelos durante a higiene.

  3. Idade
    Gatos adultos, já mais experientes no hábito de lamber-se, engolem maiores quantidades de pelo. Os gatos idosos, por sua vez, podem sofrer de trânsito intestinal mais lento, o que facilita o acúmulo.

  4. Problemas digestivos
    Distúrbios que afetam a motilidade intestinal podem contribuir para a retenção de bolas de pelo.

  5. Comportamento compulsivo
    Situações de stress ou ansiedade podem levar o gato a lamber-se excessivamente, ingerindo muito mais pelo do que seria normal.

 

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Sintomas e riscos associados às bolas de pelo

O sintoma mais evidente é o vómito ocasional de uma massa cilíndrica de pelo. No entanto, há outros sinais que podem indicar um acúmulo problemático:

  • Tosse ou engasgos frequentes sem expelir nada.

  • Falta de apetite ou recusa em comer.

  • Letargia, menos vontade de brincar ou interagir.

  • Prisão de ventre ou fezes ressecadas.

  • Presença de muitos pelos nas fezes.

  • Regurgitação de líquidos espumosos.

Embora, em muitos casos, a expulsão de bolas de pelo não represente perigo grave, em situações mais complicadas pode ocorrer obstrução intestinal. Esta condição é séria e potencialmente fatal, exigindo atendimento veterinário imediato. Entre os sinais mais alarmantes encontram-se vómitos persistentes, abdómen inchado e ausência total de dejeções.

Como prevenir as bolas de pelo

 

A prevenção é a forma mais eficaz de lidar com este problema. Com alguns cuidados simples é possível reduzir significativamente a formação de bolas de pelo e garantir maior conforto ao gato.

1. Escovagem regular

Escovar o gato é, sem dúvida, a medida mais importante.

  • Gatos de pelo curto: escovar duas a três vezes por semana é suficiente.

  • Gatos de pelo longo: a escovagem deve ser diária, especialmente em épocas de muda de pelo.

Ao remover os pelos mortos, reduz-se drasticamente a quantidade ingerida. Além disso, o momento da escovagem fortalece o vínculo entre tutor e animal.

2. Alimentação adequada

Existem rações específicas formuladas para prevenir bolas de pelo. Estas contêm fibras que ajudam a que os pelos ingeridos sigam o percurso natural do intestino e sejam eliminados com as fezes.

Também é aconselhável oferecer uma dieta equilibrada e rica em nutrientes como ómega-3 e ómega-6, que fortalecem a pele e o pelo, diminuindo a queda.

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3. Incentivo à hidratação

A água desempenha um papel essencial no bom funcionamento do sistema digestivo. Como os gatos tendem a beber pouca água, algumas estratégias podem ser úteis:

  • Usar fontes de água corrente, mais atrativas do que taças estáticas.

  • Colocar vários recipientes de água pela casa.

  • Oferecer comida húmida, como patês ou saquetas, que contêm elevado teor de água.

4. Suplementos e produtos específicos

Existem no mercado pastas laxantes, óleos ou suplementos que ajudam a lubrificar o tubo digestivo e a facilitar a eliminação de pelos. No entanto, o uso deve ser sempre recomendado por um veterinário, para garantir a dosagem correta e evitar efeitos indesejados.

5. Redução do stress

Um ambiente enriquecido e estável reduz comportamentos compulsivos de lambedura. Proporcione brinquedos, arranhadores, locais elevados e espaços de descanso tranquilos. O equilíbrio emocional tem impacto direto na saúde física do gato.

6. Higienização do espaço

Aspirar e limpar regularmente a casa ajuda a diminuir a quantidade de pelos espalhados, que acabam por colar-se ao corpo do gato e ser ingeridos durante a higiene.

Quando consultar o veterinário?

Embora a expulsão ocasional de bolas de pelo seja normal, há sinais de alarme que justificam consulta imediata:

  • Vómitos persistentes sem expulsão de pelos.

  • Perda de apetite prolongada.

  • Letargia extrema.

  • Prisão de ventre ou fezes muito duras.

  • Abdómen inchado e doloroso.

Nestes casos, apenas o veterinário poderá avaliar corretamente o estado do animal e indicar o tratamento adequado, que pode ir desde medicação até, em situações graves, cirurgia para remover uma obstrução.

Conclusão

As bolas de pelo nos gatos resultam de um comportamento instintivo e saudável: a autolimpeza. No entanto, o acúmulo excessivo de pelos pode provocar desconforto e, em alguns casos, problemas de saúde graves.

A chave está na prevenção. Com escovagem regular, alimentação adequada, estímulo à hidratação, controlo do stress e, quando necessário, uso de suplementos recomendados pelo veterinário, é possível reduzir significativamente este problema.

Estar atento ao comportamento do gato e reconhecer sinais de alarme são atitudes fundamentais para garantir o bem-estar do animal. Assim, ao compreender as causas e adotar estratégias preventivas, o tutor assegura uma vida mais confortável, saudável e feliz ao seu companheiro felino.